quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Outro - Um conto de Jorge Luis Borges

O fato Ocorreu no mês de fevereiro de 1969, ao norte de Boston, em Cambridge. Não o escrevi imediatamente, porque meu primeiro propósito foi esquecê-lo para não perder a razão. Agora, em 1972, penso que, se o escrevo, os outros o lerão como um conto e, com os anos, o será talvez para mim. Sei que foi quase atroz enquanto durou e mais ainda durante as noites desveladas que o seguiram. Isto não significa que seu relato possa comover a um terceiro. Seriam dez da manhã. Eu estava recostado em um banco, defronte ao rio Charles. A uns quinhentos metros à minha direita havia um alto edifício cujo nome nunca soube. A água cinzenta carregava grandes pedaços de gelo. Inevitavelmente, o rio fez com que eu pensasse no tempo. A milenar imagem de Heráclito. Eu havia dormido bem; minha aula da tarde anterior havia conseguido, creio, interessar aos alunos. Não havia ninguém à vista. Senti, de repente, a impressão (que, segundo os psicólogos, corresponde aos estados de fadiga) de já ter vivido aquele momento. Na outra ponta de meu banco, alguém se havia sentado. Teria preferido estar só, mas não quis levantar em seguida, para não me mostrar descortês. O outro se havia posto a assobiar. Foi então que ocorreu a primeira das muitas inquietações dessa manhã. O que assobiava, o que tentava assobiar (nunca fui muito entoado), era o estilo crioulo de La Tapera de Elias Regules. O estilo me reconduziu a um pátio lá desaparecido e à memória de Álvaro Mellián Lafinur, morto há muitos anos. Logo vieram as palavras. Eram as da décima do princípio. A voz não era a de Álvaro, mas queria parecer-se com a de Álvaro. Reconheci-a com horror.
Aproximei-me e disse-lhe:
- O senhor é oriental ou argentino?
- Argentino, mas desde o ano de 1914 vivo em Genebra
- foi a resposta.

Houve um silêncio longo. Perguntei-lhe:
- No número dezessete da Malagnou, em frente à igreja russa?
Respondeu-me que sim.
- Neste caso - disse-lhe resolutamente
- o senhor se chama Jorge Luis Borges. Eu também sou Jorge Luis Borges. Estamos em 1969, na cidade de Cambridge.

- Não - respondeu-me com a minha própria voz um pouco distante. Ao fim de um tempo insistiu:
- Eu estou aqui em Genebra, em um banco, a alguns passos do Ródano. 0 estranho é que nos parecemos, mas o senhor é muito mais velho, com a cabeça grisalha.
Respondi:
- Posso te provar que não minto. Vou te dizer coisas que um desconhecido não pode saber. Lá em casa há uma cuia de prata com um pé de serpentes, que nosso bisavô trouxe do Peru. Há também uma bacia de prata que pendia do arção. No armário do teu quarto, há duas filas de livros. Os três volumes das Mil e Uma Noites de Lane, com gravações em aço e notas em corpo menor entre os capítulos, o dicionário latino de Quicherat, a Germania de Tácito em latim e na versão de Gordon, um Dom Quixote da casa Garnier, as Tábuas de Sangue de Rivera Indarte, o Sartor Resartus de Carlyle, uma biografia de Amiel e, escondido atrás dos demais, um livro em brochura sobre os costumes sexuais dos povos balcânicos. Não esqueci tampouco um entardecer em um primeiro andar da praça Dubourg.
- Dufour - corrigiu.
- Está bem. Dufour. Te basta, tudo isto?
- Não - respondeu.
- Essas provas não provam nada. Se eu estou sonhando, é natural que eu saiba o que sei. Seu catálogo prolixo é totalmente vão.
A objeção era justa.
Respondi:
- Se esta manhã e este encontro são sonhos, cada um de nós dois tem que pensar que o sonhador é ele. Talvez deixemos de sonhar, talvez não. Nossa evidente obrigação, enquanto isto, é aceitar o sonho, como aceitamos o universo e termos sido engendrados e olharmos com os olhos e respirarmos.
- E se o sonho durasse? - disse com ansiedade.
Para tranqüilizá-lo e me tranqüilizar, fingi uma serenidade que certamente eu não sentia.
Disse-lhe:

- Meu sonho já durou setenta anos. Afinal de contas, ao rememorar, não há pessoa que não se encontre consigo mesma. É o que nos está, acontecendo agora, só que somos dois. Não queres saber alguma coisa de meu passado, que é o futuro que te espera? Assentiu sem uma palavra. Prossegui, um pouco perdido:
- A mão está saudável e bem, em sua casa de Charcas y Maipú, em Buenos Aires, mas o pai morreu há uns trinta anos. Morreu do coração. Uma hemiplegia o liquidou; a mão esquerda posta sobre a mão direita era como a mão de uma criança posta sobre a mão de um gigante. Morreu com impaciência de morrer, mas sem uma queixa. Nossa avó havia morrido na mesma casa. Alguns dias antes do fim chamou-nos a todos e disse-nos: '"Sou uma mulher muito velha que está morrendo muito devagar. Que ninguém se perturbe por uma coisa tão comum e corrente". Norah, tua irmã, se casou e tem dois filhos. A propósito, em casa como estão?
- Bem. O pai sempre com seus gracejos contra a fé. Ontem à noite disse que Jesus era como os gaúchos que não querem se comprometer e que, por isto, pregava através de parábolas.
Vacilou e disse:
- E o senhor? - Não sei o número de livros que escreverás, mas sei que são demasiados. Escreverás poesias que te darão uma satisfação não partilhada e contos de índole fantástica. Darás aulas como teu pai e como tantos outros de nosso sangue. Agradou-me que nada perguntasse sobre o fracasso ou êxito dos livros.
Mudei de tom e prossegui:

- No que se refere à História... Houve outra guerra, quase entre os mesmos antagonistas. A França não tardou a capitular; a Inglaterra e a América travaram contra um ditador alemão, que se chamava Hitler, a cíclica batalha de Waterloo. Buenos Aires, ao redor de mil novecentos e quarenta e seis, engendrou outro Rosas, bastante parecido com nosso parente. Em cinqüenta e cinco, a província de Córdoba nos salvou, como antes Entre Rios. Agora, as coisas andam mal. A Rússia está se apoderando do planeta; a América, travada pela superstição da democracia, não se resolve a ser um império. Cada dia que passa nosso país está mais provinciano, Mais provinciano e mais presunçoso, como se fechasse os olhos. Não me surpreenderia se o ensino do latim fosse substituído pelo do guarani. Notei que mal me prestava atenção. O medo elementar do impossível, e no entanto certo, o aterrorizava. Eu, que não fui pai, senti por esse pobre moço, mais íntimo que um filho da minha carne, uma onda de amor. Vi que apertava entre as mãos um livro.
Perguntei-lhe o que era.

- Os possessos ou, segundo creio, Os Demônios, de Feodor Dostoiewski
- me replicou não sem vaidade.
- Já o esqueci. Que tal é?
Nem bem o disse, senti que a pergunta era uma blasfêmia.
- O mestre russo - sentenciou - penetrou mais que ninguém nos labirintos da alma eslava. Essa tentativa retórica me pareceu uma prova de que se havia acalmado. Perguntei-lhe que outros volumes do mestre havia percorrido. Enumerou dois ou três, entre eles O Sósia. Perguntei-lhe se, ao lê-los, distinguia bem as personagens, como no caso de Joseph Conrad, e se pensava prosseguir o exame da obra completa.
- A verdade é que não - respondeu-me com uma certa surpresa. Perguntei-lhe o que estava escrevendo e disse que preparava um livro de versos que se chamaria Os hinos vermelhos. Também havia pensado em Os ritmos vermelhos.
- Por que não? - disse-lhe.
- Podes alegar bons anteceden-tes. O verso azul de Rubén Darío e a canção gris de Verlaine.
Sem me fazer caso, esclareceu que seu livro contaria a fraternidade entre todos os homens. O poeta de nosso tempo não pode voltar as costas à sua época. Fiquei pensando e perguntei-lhe se verdadeiramente se sentia irmão de todos. Por exemplo, de todos os empresários de pompas fúnebres, de todos os carteiros, de todos os escafandristas, de todos os que vivem nas casas de números pares, de todos os afônicos, etc. Disse-me que seu livro se referia à grande massa dos oprimidos e dos párias.
- Tua massa de oprimidos e párias - respondi - não é mais que uma abstração. Só os indivíduos existem, se é que existe alguém. O homem de ontem não é o homem de hoje, sentenciou algum grego. Nós dois, neste banco de Genebra ou Cambridge, somos talvez a prova. Salvo nas severas páginas da História, os fatos memoráveis prescindem de frases memoráveis. Um homem a ponto de morrer quer se lembrar de uma gravura entrevista na infância; os soldados que estão por entrar na batalha falam do barro ou do sargento. Nossa situação era única e, francamente, não estávamos preparados. Falamos, fatalmente, de literatura; temo não haver dito outras coisas que as que costumo dizer aos jornalistas. Meu alter ego acreditava na invenção ou descobrimento de metáforas novas; eu, nas que correspondem a afinidades íntimas e notórias e que nossa imaginação já aceitou. A velhice dos homens e o acaso, os sonhos e a vida, o correr do tempo e da água. Expus-lhe esta opinião que haveria de expor em um livro anos depois. Quase não me escutava. De repente, disse:
- Se o senhor foi eu, como explicar que tenha esquecido seu encontro com um senhor de idade que, em 1918, lhe disse que ele também era Borges? Não havia pensado nessa dificuldade. Respondi, sem convicção:
- Talvez o fato tenha sido tão estranho que eu tenha tratado de esquecê-lo. Aventurou uma tímida pergunta:
- Como anda sua memória?
Compreendi que, para um moço que não havia feito vinte anos, um homem de mais de setenta era quase um morto.
Respondi:

- Costuma parecer-se com o esquecimento, mas ainda encontra o que lhe pedem. Estou estudando anglo-saxão e não sou o último da classe. Nossa conversação já havia durado demais para ser a de um sonho.
Uma súbita idéia me ocorreu.
- Eu posso te provar imediatamente - disse-lhe - que não estás sonhando comigo. Ouve bem este verso, que nunca leste, que eu me lembre. Lentamente entoei o famoso verso: L'hydre - univers tordant son corps ecaillé d'astres. Senti seu quase temeroso estupor. Repetiu-o em voz baixa saboreando cada resplandescente palavra.
- É verdade - balbuciou - Eu não poderei nunca escrever um verso como este. Antes, ele havia repetido com fervor, agora recordo, aquela breve peça em que Walt Whitman rememora uma noite compartilhada diante do mar em que foi realmente feliz.
- Se Whitman a cantou - observei - é porque a desejava e não aconteceu. O poema ganha se não adivinhamos que é a manifestação de um anelo. Não a história de um fato.
Ficou a me olhar.
- O senhor não o conhece - exclamou.- Whitman é incapaz de mentir. Meio século não passa em vão. Sob nossa conversação de pessoas de leitura miscelânea e de gostos diversos, compreendi que não podíamos nos entender. Éramos demasiado diferentes e demasiado parecidos. Não podíamos nos enganar, o que torna o diálogo difícil. Cada um de nós dois era o arremedo caricaturesco do outro. A situação era anormal demais para durar muito mais tempo. Aconselhar ou discutir era inútil, porque seu inevitável destino era ser o que sou. De repente, lembrei uma fantasia de Coleridge. Alguém sonha que atravessa o paraíso e lhe dão como prova uma flor. Ao despertar, ali esta a flor. Ocorreu-me artifício semelhante
- Ouve - disse-lhe -, tens algum dinheiro?

- Sim me replicou. - Tenho uns vinte francos. Esta noite convidei Simón Jichlinski ao Crocodile.
- Diz a Simón que exercerá a medicina em Carouge e que fará muito bem... aqora, me dá uma de tua moedas. Tirou três escudos de poeta e umas peças menores. Sem compreender, me ofereceu um dos primeiros. Eu lhe estendi uma dessas imprudentes notas americanas que têm valor muito diferente e o mesmo tamanho.
Examinou-a com avidez.

- Não pode ser - gritou. - Leva a data de mil novecentos e sessenta e quatro. (Meses depois, alguém me disse que as notas de banco não levam data.)
- Tudo isto é um milagre - conseguiu dizer - e o milagroso dá medo. Os que foram testemunhas da ressurreição de Lázaro terão ficado horrorizados. Não mudamos nada, pensei. Sempre as referências livrescas. Fez a nota em pedaços e guardou a moeda. Eu resolvi lançá-la ao rio. O arco do escudo de praia perdendo-se no rio de prata teria conferido à minha história uma imagem vivida, mas a sorte não quis assim. Respondi que o sobrenatural, se ocorre duas vezes, deixa de ser aterrador. Propus a ele que nos víssemos no dia seguinte, nesse mesmo banco que está em dois tempos e dois lugares. Assentiu logo e me disse, sem olhar o relógio, que já era tarde. Os dois mentíamos e cada qual sabia que seu interlocutor estava mentindo. Disse-lhe que viriam me buscar.
- Buscá-lo? - interrogou.
- Sim. Quando alcançares a minha idade, terás perdido a visão quase por completo. Verás a cor amarela, sombras e luzes. Não te preocupes. A cegueira gradual não é uma coisa trágica. É como um lento entardecer de verão. Despedimo-nos sem nos termos tocado. No dia seguinte, não fui. O outro tampouco terá ido. Meditei muito sobe esse encontro, que não contei a ninguém. Creio ter descoberto a chave. O encontro foi real, mas o outro conversou comigo em um sonho e foi assim que pude me esquecer.
Eu conversei com ele na vigília e a lembrança ainda me atormenta.
O outro me sonhou, mas não me sonhou rigorosamente. Sonhou, agora o entendo, a impossível data no dólar.


Tradução de Lígia Morrone Averbuck


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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Caicó - E viva o profano mais sagrado da festa.


Dia 26 de julho de 2009, comemorou-se com muita festa os 50 anos do Bar de Ferreirinha, em Caicó: A bebida é mero detalhe?

Eu, fã do escritor Moacy Cirne, num momento de tietagem assumida.

Título de Cidadão Caicoense a Moacy: Redundância ao caicoense desde sempre?
Moacy Cirne e José de Anchieta Fernandes. Medalhas de Amigos do Bar de Ferreirinha. De outros carnavais
O violeiros Benedito Nascimento e Carlos Alberto da Cabaceira, prestigiaram o evento com versos de improviso.

CASA DE CULTURA DE CAICÓ - Esforço conjunto faz manter vivas a cultura e a tradição:

Custódio
Dodora
Djalma Mota
"Esse velho casarão
Fez história em nossa terra
Morada do Padre Guerra
Símbolo de educação
Representa a tradição
dos velhos tempos do além
do barroquismo mantém
traços da arquitetura
Hoje a casa de cultura
É do poeta também."
(Djalma Mota)

Escadaria ...

E interior do Sobrado

A irreverência e a arte de Custódio e Magão no palco dos eventos





Maguila declama poemas do livro
Vigarista de Sentimentos da caicoense Suerda Medeiros. Homenagem em vida, porque segundo ela, no que concordo plenamente, camiseta com foto em homenagem póstuma é de um mau gosto sem limite.

Jonas solta a voz e encanta

A Casa de Cultura homenageia Moacy Cirne, através de monólogo de Maguila.

(...)
"Em Caicó,
mel e rapadura,
apaixonei-me por Ava Gardner,
por Brigitte Bardot,
por Gilda, a que nunca houve.
Em Caicó,
mel e puxa-puxa,
o mundo e o Fluminense nasceram
para mim.
E eu ainda não conhecia Nevers.
(...)
extraído do livro Rio Vermelho, edição Fundação José Augusto/Departamento Estadual de Imprensa, 1998.

Grupo de Teatro da cidade de Janduís.
"Capineiro de meu pai
Não me corte os meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira que o Passarim beliscou"
Sucesso da Oficina de Cordel, Projeto desenvolvido pela Casa de Cultura, ministrado por Djalma Mota, membro da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte.




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terça-feira, 21 de julho de 2009

Rotineiro

Num dia extremamente rotineiro, acordo cedo como de costume e ponho a roupa de caminhar. Saio. Atravesso a BR pela Passarela de Neópolis. O tráfego já é intenso e o barulho, infernal. Caminho até a Avenida da Integração. E hoje resolvi mudar o percurso e vou direto pela Jaguarari, ao invés de pegar a Prudente. Péssima idéia!
Lá, nesse horário, é muito silencioso. Dá um pouco de medo. Medo do que vejo: garotos fumando maconha entocados pelos becos; pessoas no mais completo abandono dormindo ao relento. E medo do que não vejo, mas imagino haver ali. Um lugar que me reporta à infância. Ao imaginário infantil, ao tenebroso dos contos que não eram exatamente de fadas, onde tudo parecia sinistro e de dimensões enormes .
Uma hora de caminhada. E mais uma hora pra voltar pra casa. Agora não há mais silêncio. Só o barulho ininterrupto dos carros que passam raspando em mim. E são tantos! Fico imaginando quem são essas pessoinhas dentro de tantos veículos, para onde elas vão e fazer o que , tão apressadas.
Já em casa, prossegue a rotina. Fazer o almoço. Ler. Tomar umas canecas de chá verde, comer barrinhas de cereal e as providenciais claras de ovo, minha fonte de proteínas preferida.
Depois do almoço regado a vinho oriundo das vinícolas patoenses, envelhecido em tonéis de plástico na geladeira, uma hora pra dormir e recuperar energias.
Hora da musculação. E eu aqui escrevendo besteira e enfezando o coitado do computador.
Mastigo as intragáveis pastilhas de suplemento alimentar e saio. O que queria mesmo agora era ligar o som alto e dançar sem roupa pela casa e depois retomar a leitura de "A Montanha Mágica", há muito abandonada.
Não dá. Garrafinha de água do lado, vou encher as mãos de calos e de ferrugem do ferro velho da Academia Líder, ali na BR. E suar ao som enfadonho das bandas de Forró de Fortaleza e do lenga-lenga do papo-cabeça de camarão de alguns frequentadores do local
Putz. Vício é vício.


Objeto Neuronial n° 03
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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Chove Chuva! - A Jorge Ben Jor.

Sou fã do Jorge Ben Jor.
Acho a sua voz, divina, suave.
E quando o ouço, sinto uma saudade boa não sei de quê.
Agora, chove. Curto.
Deitada, no meu quarto, fiz este poeminha despretensioso.

Saudade - A jorge Ben Jor
A cortina na janela
filtra a memória:
A melancólica nota da goteira
fustiga a bacia de zinco
O silvo afinado do vento
escapa apressado
pela fresta da porta
O pranto da lenha verde
a arder sob a chama do fogão
A aquarela da colcha de taco
esfumaça seus tons nos meus
sonhos.
Ouço a música difusa
etérea
Saudade é a voz de Jorge Ben Jor.


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domingo, 12 de julho de 2009

Objeto Neuronial n° 02 - Leda

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Leda

Resolvemos experimentar uma periodicidade semanal para as tirinhas Objeto Neuronial, colocando-as no ar aos domingos.
Apresentamos a personagem Leda, nome que significa alegre e tem o mesmo radical de ledice, derivado do latim Laetitia, que em português se lê Letícia e era o nome de uma deusa romana que personificava a alegria. A história é baseada em fatos reais e você pode vê-la também no blog http://teianeuronial.com/

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Tampopo - A arte de fazer (e comer) espaguete


A mistura perfeita de sabor e de vida (ou morte) abordada nos filmes que têm a comida como ponto central da trama, fascina muita gente. Inclusive a mim, que sou uma apaixonada pela Sétima Arte, embora um pouco menos entusiasta no ofício de transformar alimentos em magia.
A lista de produções em que a gastronomia tem papel de destaque, é longa e interminável.

Nessa categoria, os meus preferidos são: "Tomates verdes fritos", "Como água para chocolate", "Delicatessen", "Ratatouille, "A Festa de Babette", "Vatel", " A Fantástica Fábrica de Chocolate", "Bagdá Café, "O cheiro de papaia verde", "O Cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante", "A comilança", "A mulher do padeiro", "Chocolate", entre outros.
Com o intuito de rever algumas dessas obras, convidei meu parceiro Thiago para me acompanhar na empreitada cine-gastronômica desta quarta-feira e assistimos "Tampopo, os Brutos também comem espaguete".
Tampopo é uma produção japonesa de 1985, dirigida por Juzo Itami. É uma comédia que prenuncia os efeitos da globalização na cultura japonesa, mais especificamente na culinária.
Com o intuito de satirizar os filmes de cowboy, o produtor focaliza a trama numa história central, enquanto desenvolve uma série de outras pequenas narrativas paralelas, histórias deliciosas que entrecortam a trama principal e mostram a importância da comida na cultura e sociedade nesse país.
O filme conta a história da dona de um restaurante, Tampopo (Nobuko Miyamoto) que vê seus clientes insatisfeitos com seus pratos. Assim, junto com o entregador de leite, Goro (Tsutomu Yamazaki) e mais alguns amigos, se lança na busca da melhor receita da sopa de macarrão - aquele macarrão japonês, que vem com caldo e acompanhamentos e é parecido com o miojo instantâneo que comemos aqui no Brasil, mas com carnes, algas, legumes -, cartão de visitas do seu restaurante.
O casal protagonista se vê envolvido nas mais divertidas situações, rodeada de cozinheiros tradicionais, bisbilhotando nos restaurantes, testando métodos e ingredientes, pesquisando, investigando e descobrindo segredos até conquistar a fórmula perfeita para converter o trabalho e o esrforço de Tampopo em sucesso.


Em meio a isso tudo, rolam histórias de amizade, camaradagem, brigas bizarras, sensualidade, sexo, amor e uma miríade de cozinhas e cozinheiros.
Destaco cenas interessantes, como a do "mestre" que passa o segredo de se apreciar um bom espaguete, utilizando outros sentidos, além do paladar, como a visão, o tato e a audição, e dos mendigos-gourmet, que sabem mais de vinho e iguarias do que os melhores experts. A cena mais hilária, entretanto, fica por conta de uma professora japonesa e suas alunas, numa aula de como comer espaguete com elegância.


Ao evidenciar a alimentação no cinema, o autor acaba chamando a atenção do espectador através do sentido da visão, e o induz a "sentir" o gosto da comida, antes mesmo que ela chegue à boca, ou seja, ensina as técnicas de "comer com os olhos".
E é Claro que depois disso tudo, me bateu uma fome terrível e, ainda que fosse tarde e contrariasse meus hábitos alimentares, não resisti e ataquei a geladeira, fazendo uma "boquinha" antes de dormir.




Fonte: Pérolasdadegustação.blogspot.




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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Estreia - Objeto Neuronial n° 01




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