segunda-feira, 30 de julho de 2007

(Aqui, joan Baez canta com Bob Dylan, de quem foi namorada)

Diamonds & Rust
(Joan Baez)

Well I'll be damned
Here comes your ghost again
But that's not unusual
It's just that the moon is full
And you happened to call
And here I sit
Hand on the telephone
Hearing a voice I'd known
A couple of light years ago
Heading straight for a fall

As I remember your eyes
Were bluer than robin's eggs
My poetry was lousy you said
Where are you calling from?
A booth in the midwest
Ten years ago
I bought you some cufflinks
You brought me something
We both know what memories can bring
They bring diamonds and rust

Well you burst on the scene
Already a legend
The unwashed phenomenon
The original vagabond
You strayed into my arms
And there you stayed
Temporarily lost at sea
The Madonna was yours for free
Yes the girl on the half-shell
Would keep you unharmed

Now I see you standing
With brown leaves falling around
And snow in your hair
Now you're smiling out the window
Of that crummy hotel
Over Washington Square
Our breath comes out white clouds
Mingles and hangs in the air
Speaking strictly for me
We both could have died then and there

Now you're telling me
You're not nostalgic
Then give me another word for it
You who are so good with words
And at keeping things vague
Because I need some of that vagueness now
It's all come back too clearly
Yes I loved you dearly
And if you're offering me diamonds and rust
I've already paid




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quinta-feira, 26 de julho de 2007

Só (livre)
O meu anjo da guarda morreu há muito
Sim, fui eu quem assim o quis
As suas asas deixavam-me encoberto
Por isso matei-o e finalmente o desfiz

Ele tinha-me oferecido protecção
Incómoda como uma torneira
Pingando a noite inteira

Proporcionou-me Luz, mas uma luz de neón
E com uma cortina de madeira
Escondia-me a janela verdadeira

Proteger é impor um limite decretório
Eu decido se quero ascender ao Céu
Ou se quero afundar-me no Purgatório
E foi por isso que matei esse anjo meu.

(Ricardo José Pinho)



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terça-feira, 24 de julho de 2007

Versão brasileira: Herbert Richers
Quantas vezes ouvimos isso ? E por quantos nomes diferentes chamávamos Herbert Richers??? Há alguns dias ouvi a famosa frase na televisão. Até então não tivera a curiosidade de saber de quem se tratava. Até hoje. ..

"Herbert Richers é um personagem de cinema. Com uma diferença: ele fica do lado de cá das câmeras, já que grande parte da produção nacional realizada até hoje passou pelas suas mãos. São 50 anos, a metade da idade do cinema mundial, produzindo jornais, chanchadas, filmes, longas e curtas-metragens. Por isso, a história do cinema brasileiro poderia ser contada a partir da sua própria história. E nesse momento, quando comemoramos seu meio século de carreira, a Faculdade da Cidade lhe concede o título de professor Honoris Causa, uma homenagem prestada por faculdades a pessoas que deram sua contribuição para a cultura do país.
sr. Herbert
Paulista de Araraquara, Herbert Richers veio para o Rio de janeiro em 1942 para trabalhar no maior laboratório cinematográfico do país, que pertencia a um tio. A Herbert Richers S.A. foi fundada em 1950 e sua primeira produção foi um jornal cinematográfico que, em seis meses, conseguiu ser distribuído e exibido em mais de 2.000 cinemas, nas principais cidades do país.
Em vários momentos, Herbert Richers foi o precursor de novas tendências. Aconteceu assim com o Cinema Novo, quando este ainda estava a caminho. O filme "Os Cafajestes" trouxe inovação e mais sucesso. O dinheiro veio através de "Meu Pé de Laranja Lima"que, segundo o produtor, deu muito trabalho para realizar. Ele também foi responsável pelo surgimento de novos talentos, como e o caso de Vidas Secas , um longa produzido com Nelson Pereira dos Santos e que teve como diretor de fotografia Luiz Carlos Barreto - atualmente um dos mais conceituados produtores brasileiros.
A dublagem, como a conhecemos hoje em dia, foi introduzida pela Herbert Richers em 1960, com a ajuda de Walt Disney. Como a legenda na época não era boa, a televisão pequena, em preto e branco e sem definições, resolveram colocar vozes brasileiras nas produções estrangeiras. Hoje são dublados, em média 150 horas de filmes por mês, o que corresponde a setenta por cento da dublagem exibida nos cinemas. Ou seja, a marca registrada Herbert Richers não está presente apenas no que é feito no país, mas em grande parte do que recebemos de fora também.
dos cinemas para a nossa sala de estar
Um tour nostálgico pelos grandes nomes do cinema brasileiro e suas inesquecíveis interpretações. Isso se torna possível através do departamento de home vídeo criado pela distribuidora Herbert Richers. Seus primeiros lançamentos no mercado são a chave para se entrar em contato com a época de ouro das chanchadas, entre elas "Sai de Baixo", "Com Água na Boca", "Metido a Bacana"e "Com Jeito Vai". A partir de agora, esse acervo único, sonho de todo cinéfilo, poderá ser compartilhado em nossas próprias casas.



fonte: Estúdios Herbert Richers On-line (Jornal da Faculdade da Cidade - Edição comemorativa 100 anos do cinema e 50 de Cinema de Herbert Richers).



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Nalgum lugar
(E.E. Cummings)
nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.

No cd "Líricas" de Zeca Baleiro há uma música que gosto muito chamado 'Nalgum Lugar'. Essa belíssima música é um poema de E.E. Cummings (tradução de Augusto de Campos). No Encarte, Zeca Baleiro explica o porque de ter musicado esse poema:

"Há muito anos, vi no cinema 'Hanna e suas Irmãs", filme de Woody Allen, em que o personagem de Michael Caine, apaixonado pela irmã de sua mulher, a presenteia com um livro do poeta americano E.E. Cummings. A certa altura, ela abre o livro e lê um poema de amor lírico e comovente. Passei muito tempo com o eco daquele poema na minha memória..."
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quinta-feira, 19 de julho de 2007

Chaplin

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"


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"Chaplin, Charles (1889-1977)

Filho de artistas do vaudeville londrino, Chaplin teve uma infância miserável e chegou a roubar comida para sobreviver depois que seu pai abandonou a família e sua mãe foi internada como louca.
Ainda adolescente obteve emprego na companhia teatral de Fred Karno e, ao fazer uma excursão pelos Estados Unidos, em 1913, foi contratado por Mack Sennett para trabalhar na Keystone, o maior estúdio de comédias do cinema mudo.
Al, Chaplin criou o personagem que o tornaria famoso: o vagabundo, de bengala e chapéu-côco.
Em 1919 fundou a United Artists, em sociedade com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e David W. Griffith, e passou a produzir filmes de longa-metragem. Nos anos 20 sua carreira estava no auge, mas seus problemas amorosos começaram a se agravar. Sua primeira mulher, Mildred Harris perdeu o que seria seu primeiro filho e Lita Grey, com quem se casou a seguir, o processou.
Os escândalos se seguiram, mas talvez o de maior repercussão tenha sido seu casamento, aos 56 anos, com a filha do escritor Eugene O'Neill, Oona, de 18.
Nos anos 50 foi perseguido pelo macarthismo e, após uma excursão à Europa foi impedido de retornar aos Estados Unidos. Mudou-se então para a Suíça. Anos mais tarde, os americanos tentaram se redimir concedendo-lhe um Oscar especial.
Um dos grandes gênios do cinema, Chaplin também era responsável pelas trilhas sonoras de todos os seus filmes e criou canções imortais, como "La Violetera" - de "Luzes da Cidade", "Smile" - de "Tempos Modernos" - e "Limelight" - de "Luzes da Ribalta".

Principais Filmes:

Curtas:

· Carlitos Repórter (1914)

· Idílio desfeito (1914)

· O Vagabundo (1915)

· Casa de Penhores (1916)

· Rua da Paz (1917)

· O Imigrante (1917)

· Vida de Cachorro (1918)

· Ombro, Armas! (1918)

· Idílio Campestre (1919)

· Dia de Prazer (1919)

Longas:

· O Garoto (1921)

· Os Ociosos (1921)

· Dia de Pagamento (1922)

· Pastor de Almas (1923)

· Casamento ou Luxo? (1923)

· Em Busca do Ouro (1925)

· O Circo (1928)

· Luzes da Cidade (1931)

· Tempos Modernos (1936)

· O Grande Ditador (1941)

· Monsieur Verdoux (1947)

· Luzes da Ribalta (1952)

· Um Rei em Nova York (1957)

. A Condessa de Nova York (1966)

Chaplin gostava de filmar junto com a família e rodeado de amigos. Uma observação cuidadosa da cabeceira da cama de Calvero permite descobrir, sobre a mesma, uma foto de Edna Purviance, em uma homenagem à protagonista da maioria dos curtas-metragens do cineasta. Snub Pollard também fazia parte “dos velhos tempos” e, por isso, Chaplin lhe reservou o papel de um dos músicos ambulantes que estimulam a imaginação de Calvero e o fazem recuperar a sua verdadeira natureza de vagabundo."

Fonte:Site Adoro cinema
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Rosebud!


Rosebud!!!!

É. Não haverá mais neve?... Nem outro Orson!!!!
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terça-feira, 17 de julho de 2007


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O pulso ainda pulsa


O Pulso ainda pulsa
(Arnaldo Antunes)

O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Peste bubônica câncer pneumonia
Raiva rubéola tuberculose anemia
Rancor cisticircose caxumba difteria
Encefalite faringite gripe leucemia
O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa
Hepatite escarlatina estupidez paralisia
Toxoplasmose sarampo esquizofrenia
Úlcera trombose coqueluche hipocondria
Sífilis ciúmes asma cleptomania
O corpo ainda é pouco
O corpo ainda é pouco
Reumatismo raquitismo cistite disritmia
Hérnia pediculose tétano hipocrisia
Brucelose febre tifóide arteriosclerose miopia
Catapora culpa cárie câimbra lepra afasia
O pulso ainda pulsa
O corpo ainda é pouco



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domingo, 15 de julho de 2007

Ciranda da bailarina


Chico Buarque - Ciranda Da Bailarina
*(Chico, gosto de ti, meu chapa...Nada pessoal te por aqui nesse blog)
Chico Buarque - Ciranda Da Bailarina
Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem

Procurando bem
Todo mundo tem...

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sábado, 14 de julho de 2007


Pablo Neruda
Poema XV (Viente Poemas de amor y una canción desesperada)
Me gustas cuando callas porque estás como ausente,

y me oyes lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran velado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerge de las cosas, llena de alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolia.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrulo
Y me oyes desde lejos y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle com el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio.
Claro como una lámpara, simple como un anillo
Eres como la noche, callada y constelada
Tu silencio és de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gusta cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como se hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Gosto quando te calas
Gosto quando te calas porque estás como ausente
e me escutas de longe; minha voz não te toca.
É como se tivessem esses teus olhos voado,
como se houvesse um beijo lacrado a tua boca.
Como as coisas estão repletas de minha alma,
repleta de minha alma, das coisas te irradias.
Borboleta de sonho, és igual à minha alma,
e te assemelhas à palavra melancolia.
Gosto quando te calas e estás como distante.
Como se te queixasses, borboleta em arrulho.
E me escutas de longe. Minha voz não te alcança.
Deixa-me que me cale com teu silêncio puro.
Deixa-me que te fale também com. teu silêncio
claro qual uma lâmpada, simples como um anel.
Tu és igual a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão remoto e singelo.
Gosto quando te calas porque estás como ausente.
Distante e triste como se tivesses morrido.
Uma palavra então e um s6 sorriso bastam.
E estou alegre, alegre por não ter sido isso.

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sexta-feira, 13 de julho de 2007

"Cría Cuervos... (y te sacarán los ojos)

¿Por que te vas?
(Jeanette-1975)
Hoy en mi ventana brilla el sol,
y el corazón se pone triste
contemplando la ciudad,
por qué te vas.

Como cada noche,
desperté pensando en ti
y en mi reloj todas las horas vi pasar
por qué te vas.

Todas las promesas de mi amor
se irán contigo,
me olvidarás,
me olvidarás.

Junto a la estación hoy lloraré
igual que un niño,
por qué te vas,
por qué te vas.

Junto a la penumbra de un farol,
se dormirán
todas las cosas que quedaron por decir,
se dormirán.

Junto a las manillas de un reloj,
esperarán
todas las horas que quedaron por vivir,
esperarán.

Esta música é tema do filme Cria Cuervos, (Do provérbio espanhol "Cria cuervos y te sacarán los ojos") do espanhol Carlos Saura, protagonizado por Geraldine Chaplin (Esposa desse cineasta e filha de Charles Chaplin)
Gosto em especial da cena do filme em qua a pequena Ana liga a vitrola e dança ao som da música.
Sinopse: Ana, com apenas nove anos, vê os pais morrerem no espaço de um ano – a mãe, sofrendo intensas dores, agoniza diante de Ana, com o que se supõe seja uma hemorragia uterina, após longa doença; o pai morre algum tempo depois, no leito do casal, numa relação sexual com a mulher de seu melhor amigo.

Do lado de fora do quarto, Ana escuta os estertores do pai e vê Amélia, a amante, fugir assustada. Ana, julga-se responsável pela morte do pai. Imagina tê-lo envenenado com o bicarbonato de sódio, "um veneno terrível", que colocara em seu leite e que ela guardava numa caixinha, que a mãe pedira pra que jogasse fora.

Cría Cuervos foi lançado no ano da morte do General Francisco Franco e mostra uma Espanha ainda soturna, vivendo sob a sombra da ditadura - formada por militares, Igreja Católica e outros expoentes de direita - que dominou o país por 40 anos.
O filme é sobre a velha e doente Espanha (representada por duas gerações de mulheres) e a Espanha que está nascendo, representada por Ana, cheia de culpas e, assim como o País pós Franco, buscando um futuro nobre, mas aprisionada pelo passado.

"Não sei por que certas pessoas se referem à infância como a época mais feliz de suas vidas. Eu lembro os meus dias de criança, como um período interminável, monótono e triste, onde o medo dominava tudo – medo do desconhecido. Para mim, o paraíso infantil não existe. Não acredito na bondade, nem na inocência das crianças."Ana, em Cría Cuervos.



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quarta-feira, 11 de julho de 2007


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segunda-feira, 9 de julho de 2007

Florbela Espanca


Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

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Déjeuner du matin
(Jacques Prévert)
Il a mis le café
Dans la tasse
Il a mis le lait
Dans la tasse de café
Il a mis le sucre
Dans le café au lait
Avec le petit cuiller
Il a tourné
Il a bu le café au lait
Et il a resposé la tasse
Sans me parler
Il a alumé
Une cigarrette
Il a fait des ronds
Avec la fumée
Il a mis des cendres
Dans le cendrier
Sans me parler
Sans me regarder
Il s'est levé
Il a mis
Son chapeau sur la tête
Il a mis
Son manteau de pluie
Parce qu'il pleuvait
Il est parti
Sous la pluie
Sans une parole
Sans me regarder
E moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
E j'ai pleuré.

Café da manhã
Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo de chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.







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sábado, 7 de julho de 2007

Umas pérolas do Archanjo


Gabriel Archanjo de Mendonça
Fiat
Vestir a pele inconsútil da cariátide
e vencer o inseto obscuro
na noite definitiva.

Sorver a verticalidade nua
e transpirar o sol da estátua antiga
que a virtude não concebe.

Retalhar-se em moléculas de gozo
e consumir-se na luz.

Relicário
A noite do meu relógio
me manda arquivar mais um dia.
Um dia banal
ruminado a contragosto.

Mas sei
que este mesmo dia
há de ter seu momento
de glória
ao diluir-se na lágrima certa
dos guardados do meu futuro.

Aclive
A montanha
é um convite obstinado
da consciência.
A antevisão da posse
compensa os sobressaltos
da escalada.
Oh, a vertigem do inusitado.
Os pés se ferem
na ferrugem de agulhas
regeladas.
Avalanchas de pranto
rolando estrepitosamente
entulham gargantas
escancaradas.

Segredo
Eu quis depositar o meu segredo
nas tuas mãos de brasa
e desnudar minha alma ressequida
ante a crepitação de teus olhos.
Mas o vento
que me embalava o sonho
e que me trouxe a teus pés
soprou o sol
que forrava a tua imagem
e a noite se fez.
Que o vento
vomite as cinzas de meu sonho
por sobre a realidade
do meu leito.

Fastio
Mais noites hão de vir
que as que se foram?
Os braços rejeitados
aguardam
o desmoronamento protelado.

A angústia do nada
não logra vencer a ampulheta.
As portas não são ainda
o assomo do consumado.

Desencanto
O sonho realizado
acomodou-se preguiçosamente
na lua da rede
e foi cuidar
por tempo de sesta
na digestão burguesa.

Que o sonho futuro
por mais que sonhado
não passe de sonho.

Rotineiro
Ter que mastigar
o segredo encardido
que o sagrado não comporta.

Ter que expor ao cosmo
a pele trabalhada
e acomodar
entre os ossos carcomidos
o abominável.

Ter que cumprir o perpendicular
na estrada sem meta
quando os joelhos suplicam
o macio da terra.
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sexta-feira, 6 de julho de 2007

No Caminho com Maiakóvski


"No caminho com Maiakóvski"

O lindo poema com esse título, na verdade não é de autoria do grande poeta russo Maiakóvski.
Inúmeras vezes confundido como sendo do próprio é na verdade de outro poeta, o brasileiro Eduardo Alves da Costa.

Esse equívoco que perdurou por três décadas, foi resolvido por uma personagem de novela.
Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era costumeiramente creditado ao russo Vladimir Maiakóvski .
E assim foi estampado em camisetas na época das Diretas-Já. Transformou-se em símbolo da luta contra a ditadura militar.
Quando a personagem da atriz Cristiani Torloni, durante o capítulo de uma novela leu um trecho do poema dando o crédito correto, a controvérsia foi reacesa e as dúvidas foram dirimidas em horário nobre, em capítulo posterior.

"O engano surgiu quando o poema saiu em jornais universitários, nos anos 70.
O Psicanalista Roberto Freire publicou num dos seus livros e deu crédito ao russo, me colocando na qualidade de tradutor"
, diz Eduardo Alves da Costa.
Eis o poema:
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Rimbaud sonha...

Sonhando para o inverno
(Arthur Rimbaud)

No inverno, iremos num vagãozinho rosa
Com almofadas azuis.
Estaremos bem. Um ninho de beijos loucos repousa
Em todos os cantos macios.

Fecharás o olho, para não ver, pelo espelho,
As caretas das sombras noturnas,
Estas monstruosidades raivosas, grupelho
De lobos negros e demônios soturnos.

Depois sentirás a bochecha arranhada...
Um beijinho vai percorrer, como louca aranha,
De teu pescoço o canto...

E me dirás: "Procura!" inclinando a cabeça,
— E levaremos tempo para encontrar esta possessa
— Que viaja tanto...
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