segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O sertão virou mar... um mar de verde!!

Ontem, visitei o Seridó.
Fui a Caicó. Uma visita rápida. Observei uma mudança na região, a partir de Currais Novos, em relação à paisagem de pouco mais de 20 dias atrás, a última vez em que estive lá.

Parecia um milagre: A caatinga cinzenta, se transformara num verde exuberante, onde os arbustos e árvores, agora emergem de um tapete igualmente verde, que recobre todo o marrom avermelhado do solo, a cor predominante por muitos meses do ano.

De fato, na caatinga, a mata branca (que é um bioma único no mundo e exclusivamente brasileiro), as plantas xerófilas possuem mecanismo que permitem que se adaptam bem ao semi-árido: suas raízes são profundas, o que facilita a busca de umidade; são recobertas por uma camada de cera que retém líquidos e as folhas pequenas, são finas e por vezes reduzem-se a espinhos. 

Durante o período de seca, a maior parte dessa vegetação, com espécie de plantas caducifólias, perde a folhagem, evitando assim um nível maior de perda de água pelo mecanismo da respiração.
Há ainda as cactáceas, de folhas atrofiadas e caules grossos que resistem à seca armazenando grande quantidade de água em sua estrutura peculiar.

Assim, basta que caiam umas poucas chuvas na região, para que tudo se transforme rapidamente e o que era seco e aparentemente sem vida, volta a ser verdejante. Novamente, brotam as folhas nos galhos ressequidos e o Sertão ganha nova pintura.

À tardinha, com um tempo mais ameno, viajo de volta a Natal. Da janela do ônibus, os meus olhos, agora desacostumados às imagens, (há um ano, tão comuns e normais), passam a perceber detalhes. Vejo a paisagem próxima ao açude Itans, ora com um nível de água bastante reduzido, devido a baixa precipitação pluviométrica nos últimos anos e pela intensa evaporação.

Em alguns trechos, pode-se ver as pedras do leito. Nos locais mais rasos, a água forma vários braços de nesgas alongadas que parecem se agarrar a terra, num gesto desesperado para impedir a intensa evaporação e infiltração.

Aos poucos, esses pedaços de água vão sumindo e só a caatinga é alvo de minha observação.
Em alguns pontos há uma enorme devastação da cobertura vegetal. E os espaçamentos são muito grandes entre um arbusto e outro. Ainda há a pratica de derrubada da vegetação com fins de obter-se o carvão vegetal e para alimentar as olarias.
Até quando?
Mas logo abandono esse pensamento quando começam a passar velozmente diante de mim, as cercas de pedra.
São construções feitas com pedras simetricamente arranjadas. Provavelmente, algumas, construídas por mão de obra advinda das Frentes de Emergência, quando das grandes estiagens. 
Verdadeiras obras- de-arte. Quilômetros e quilômetros delas, que me levam a questionar, que mãos as construíram, o que será que resguardam
nessa terra aparentemente abandonada?

As cercas de pedra são bonitas e resistentes. Elas, dispensam o uso de madeira e impedem o carreamento do solo, ajudando assim na sua preservação. É visível nelas o mal estado de conservação e há vários pontos onde desabaram, deixando assim enormes buracos. 

Provavelmente, em alguns anos, essas cercas deixarão de existir.
Darão lugar à construções mais modernas, com cerca invisíveis.

A alusão às cercas, é meramente do ponto de vista contemplativo, artístico e estético.
No momento não me detenho em outro tipo de análise.
Mas o sumiço delas, pelo menos do meu campo de visão não demorou.

O Ônibus tomou outra direção e enveredou pelas curvas da estrada que leva a Jardim do Seridó e rapidamente tudo foi ficando para trás.

Agora já estava escuro e começou a cair uma chuvinha fina, que aos poucos foi aumentando de intensidade. Eu
 havia sentido a falta dos trovões. 
E eles ecoam, ainda que abafados pelo barulho do motor.

De vez em quando eu podia ver as bonitas serras, a cada relâmpago que iluminava o céu.


Fotos: Internet

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