quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

No meio do caminho havia um jumento

Nego Lúzio ou Lúzio Alves como é conhecido em Natal e no Seridó, é cantor de forró, Violeiro repentista, compositor, radialista e trabalha atualmente na Rádio Rural de Caicó/RN.
É o primo mais sacana e mais engraçado que tenho. Minha mãe, que é sua tia, diz que ele é magro e nanico de ruim. É um exímio contador de histórias e o faz com a maior cara de pau, como se tudo fosse a mais pura verdade. E sem qualquer pretensão de ser engraçado.
Essa, ele jura que realmente se passou. Jura por tudo quanto é mais sagrado, fazendo cruz com os dedos na boca. Sagrado pra ele é algo similar a uma lapada de cachaça, uma mulher boa de cama, um cigarro - que pode ser até um pé duro, na falta de desfiado - ou o seu chapéu de massa, acessório indispensável na composição da indumentária.
Adolescente, de uns 15 anos, morava num sítio no município de São Bento da Paraíba, onde nasceu. Certo dia, foi pra casa da namorada e saiu ainda com sol, porque queria voltar cedo, embora lá na região houvesse o costume de o namorado dormir na casa da moça. Hábito esse, que se cultivava devido à distância entre as casas do lugar pouco povoado, mas principalmente porque assim que a menina dava sinais que queria namorar, os alcoviteiros dos pais, só pensavam em casá-la o mais rápido possível, fosse com quem fosse. Até o nego Lúzio, servia, o negócio era a filha não ficar falada.
Mas ele não podia dormir na casa dela de jeito nenhum, simplesmente porque aos 15 anos ainda mijava na rede. Então, por volta das 9 horas da noite, despediu-se e saiu. Logo que sumiu das vistas do povo, ensaiou um trote que aos poucos se transformou numa carreira vedada no rumo de casa. Correu por uns bons 20 minutos. O bicho, era além de tudo, medroso que só a moléstia. (E ainda dizem que o povo de São Bento da Paraíba é valente...)
Já nas proximidades de casa, do jeito que vinha na carreira, deu uma pequena moderada e brecou pra poder atravessar o passadiço que havia na cerca que delimitava as terras. Ao saltar lá em baixo sentiu-se fortemente atingido no peito. Foi uma tacada grande e o nego foi pro chão. Ao levantar-se, atordoado com a dor e sem saber do que se tratava passou a mão no local e sentiu que algo líquido escorria pelo corpo. Desesperado, correu o quanto pode e ao chegar perto de casa já foi logo gritando, “Pai, pelo amor de deus, abra a porta!”. Meu tio (de saudosa memória), assustado, acendeu a lamparina e antes mesmo de girar a tramela da fechadura, ouviu o nego perguntar do outo lado:
-Pai, sangue fede?
E o meu tio:
- Fede sim, por que?.
- Porque eu tô furado, respondeu.
Tal foi espanto e a raiva de tio Chico ao olhar pra ele e dar o diagnóstico:
- Vá tomar um banho no açude, nego podre, que tu tá é cagado.
A explicação mais plausível que ele dá pro ocorrido, é que, ao pular o passadiço, sofreu um coice de um jumento, que provavelmente, também com medo, liberou uma bomba de gases intestinais, devidamente acompanhado de boa porção de resíduos sólidos - que não estavam exatamente em estado sólido naquele fatídico momento.
Não se sabe o que esse acontecido repercutiu na vida do Cabra. O fato é pouco tempo depois ele fugiu de casa e se aboletou na casa da minha mãe e de lá traçou toda sua trajetória de vida.
Aos domingos, quando a cachaça deixa, ele ainda vai almoçar na casa dela e nos deleitar com suas histórias.


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3 comentários:

Moacy Cirne disse...

A história é deliciosa, sim. Não teria mais algumas dessas para publicar em seu blogue?

Um beijo.

Anônimo disse...

É um dos capítulos do seu livro.

Jens disse...

Oi Inês.
Concordo com o teu conterrêneo Moacy (você também é de Caicó, né?): história deliciosa. E o teu talento para contar torna a leitura ainda mais gostosa.
Quero mais...
Beijo e bom carnaval.