Aghata sempre fora
um animal inquieto desde o seu nascimento.
Exceto pelos meses que
passara na barriga de sua mãe, ela diria que todos os lugares por
onde viveu e morou lhe pareceram incômodos e desconfortáveis.
Fora sempre uma
estrangeira aonde quer que fosse. De nada adiantava a água, a
comida, uma paisagem bonita, um cantinho fresco para repousar o corpo.
Assim, quando saia
dos seus confinamentos, Aghata corria em círculos, desesperada,
procurando uma forma de voltar para o que ela considerava sua casa,
que na verdade, não atinava onde pudesse ser.
Foram incontáveis
as ocasiões de fugas e de falsa liberdade durante toda sua juventude e idade adulta.
Os seus donos,
preocupados, começaram a segui-la para tangê-la,- se não de volta
pra casa, já que ela não sabia onde ficava -, mas para mantê-la quieta
e não lhes trazer aborrecimentos.
A princípio ela
resistia e escapava dos perseguidores em louca disparada, dando
voltas e voltas, sem contudo, ir a lugar algum.
Aos poucos foi
ficando velha e resignada.
Ainda se
movimenta lentamente no interior do círculo, onde em várias extremidades, se posicionam seus caçadores, cada um
num local estratégico, a vigiá-la ao longe, por toda a circunferência.
Aghata agora caminha titubeante, percorre o
raio que vai do centro do círculo ao ponto onde se acha um dos seus donos.
Lá é escorraçada e ela faz o caminho inverso. Faz vários percursos, sempre enxotada por um empurrão, uma pedrada, uma palavra àspera e ela retorna ao ponto zero.
Tantos diâmetros percorridos. Mas Aghata sabe que não há saída.
Deita-se,
aconchega-se consigo mesma.
Tenta não sentir
dor. Não sentir dor já lhe dá um pouco de paz.
Pensa numa estrela distante e se acalma.
Assim deverá viver
até tornar-se apenas um punhado de pó a pairar no espaço.
Aghata não não sente mais desejo de voltar pra casa. E isso não tem mais importância.
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