quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sobre um luar de agosto

Imagem: Internet

Na manhã de domingo, sob o ar impregnado de um odor enjoativo, despertou com o sol batendo no rosto e com o mugido melancólico dos bois. Sentia-se abatida e  movimentava-se com dificuldade já que o corpo todo lhe doía.
Na noite anterior havia feito uma breve visita  ao amigo Antônio na fazenda vizinha. Conversaram na varanda enquanto tomavam vinho e regressara a casa por volta da meia noite.
Agora, tudo que  precisava era sair o mais rápido possível da atmosfera modorrenta do curral e apagar quaisquer vestígios do recorrente pesadelo.
Entrou em casa e subiu até o quarto. Como de costume, tomou um banho demorado, colocou as lentes de contato verdes para encobrir o residual vermelho na cor dos olhos, cortou a enorme garra - desta vez no dedo indicador direito -, aplicou cicratizante nos arranhões, depilou um tufo de longos pelos ásperos que se destacava no ombro esquerdo e desceu até o canil. Recolheu o corpo destroçado do seu cão labrador e o enterrou no jardim. Limpou as marcas de sangue do chão e em seguida, ligou insistentemente para o amigo Antônio a fim de  confirmar o passeio de barco.  Compreendeu então que  ele não poderia atender.
E tudo se consumava mais uma vez.


Share/Save/Bookmark

3 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Um delicado conto de horror... Gostei! Sutil, como todo bom Terror deveria ser! Bom ver você profícua novamente! A propósito: os Morcegos voltaram! Abração!

Diários do Papai disse...

Um lobisomem à solta?! Deixa eu correr, que minha filhota tem medo do escuro, ré ré! Abração! E seja sempre bem-vinda: obrigado pelos elogios e comentários!

Jens disse...

Adorei. Lembrei das histórias que minha mãe contava (que, por sua vez, ouviu do vô Daniel). Não sabia, porém da existência da loba mulher (não no sentido de fêmea do lobisomem, of course).

Beijos e uivos à luz da lua.