Os conceitos de tempo bom e mau tempo são vagos e bastante subjetivos. Para alguns, bom tempo está associado a um solzinho ameno, uma temperatura agradável, mais ou menos equilibrada, e o mau tempo às chuvas, tempestades, tsunamis, furacões, tufões. Seriam conceitos desenvolvidos num meio predominantemente urbano e fútil, onde a maior preocupação seria com o tipo de roupa que se deve usar?
Não importa. Para mim, tempo bom é sinônimo de chuva. Quanto mais chuva, mais bom o tempo. De preferência no sertão, quando vem acompanhada do ribombar dos trovões e clarões dos relâmpagos; do som dos primeiros pingos que batem forte no chão ressequido; de um céu chumbo obeso, quase sinistro que enche o povo de alegria e os açudes e barragens de água.
Assim, consolo-me, vendo as fotos das sangrias de alguns açudes no Seridó, em blogues que acompanho, enquanto vou-me contentando com a chuva da capital, que não tem a mesma simbologia, nem expectadores nas janelas, mas ainda assim é chuva.
E chove em Natal há várias horas. Chuva aqui é mais sinônimo de transtorno do que qualquer outra coisa. 50 ou 60 mm é o caos completo que inferniza a vida de milhares de pessoas. As ruas ficam totalmente alagadas e esburacadas e às vezes é impossível transitar a pé ou de carro. Sair, só no velho busão regado a xingamento de motorista.
Nada disso me afeta. Acordo feliz, animada, de bom humor. Tudo ao redor se transforma e as cores têm nuances intensas. Os cheiros em profusão, densamente concentrados na umidade, me embriagam.
Saio caminhando sob o guarda-chuva e chego atrasada à aula, deslumbrada com os peixinhos - sim, peixinhos - que vejo saltitando e retorcendo os corpos prateados na água que escorre rente à calçada, desde a saída do meu apartamento até o final da rua. De onde eles vieram não sei.
Se não sei a procedência, desconfio do motivo. Vieram para imprimir uma nova imagem à memória das minhas chuvas, agora, litorâneas. Torço para que eles cheguem até a lagoa de estabilização próxima e que esta seja, de fato, de águas pluviais como dizem...
E que perdure o mau tempo... por muito tempo!
2 comentários:
Oi Inês.
Chuva regando um solo ressequido é sem dúvida um belo espetéculo - sinal de vida. Porém, como não temos este problema aqui na capital dos pampas (e considerando unicamente o meu umbigo), gosto mais de um sol outonal. Mas o teu post me fez lembrar antigas tardes de chuvas primaveris em que, criança, tomava banho de chuva. Na época, curiosamente, não se tinha medo nem notícia de morte por raio, diferente de hoje. Bom tempo, aquele.
Um beijo.
Ah, essas primeiras chuvas pelo menos, não me trouxeram transtono algum pelo contrário, no domingo passado, aproveitamo-nos dela para um breve retorno a infância; eu, Mário e as meninas... correndo e pulando aqui pelo condomínio, jogando água uns nos outros.. rejuveneci um monte de anos.. rs
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