domingo, 15 de maio de 2011

Liberdade

sick transit - José Paulo Paes
Celebridade
Eu sou o poeta mais importante da minha rua.
(Mesmo porque a minha rua é curta.)
José Paulo Paes

É domingo, mas não um domingo qualquer. É um desses raros dias em que me permito acordar tarde e fazer o desjejum às dez, protelar ou abolir o almoço, mudando a ordem normal das coisas.
Ontem, pelo interfone, me avisaram  que chegou um volume.
É um livro, eu sei.
Fico ansiosa, mas me contenho. Tudo tem sua hora. Indescritível é o prazer de postergar o encontro marcado com o  desejado.
Assim, saio da gaiola e vou até o parque do condomínio. Olho em volta e enxergo  o comum e o invísivel do cotidiano: a liberdade, o mato verde, o banco roído, as  gentes costumeiramente vistas com as retinas embaçadas pela  indiferença.
Ah, o livro...pego o embrulho e no hiato entre rasgar o pacote e vislumbar a obra,  me dou conta de  que já não serei a mesma depois desse ato.
Reluto. Chove. Era o que faltava.
E agora como velhinhos no parque, ponho meu agasalho, os óculos e assisto à chuva e ao meu êxtase quase infantil que o porteiro não compreende.
E eis que surge o poeta José Paulo Paes.
Muito prazer, poeta! Sinto só vir a conhecê-lo melhor agora.
É o volume Poesia completa da editora Companhia Das Letras. Agradou-me não ter a aparência de pão doce dos livros brilhosos, cheios de não me toque e nove-horas, cujo incômodo eu não sabia como expressar até ouvir a curiosa adjetivação de um dos meus professores.
Agora me despeço. Vou numa viagem. Sem volta.

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