Tudo passa lento e morno e a noite vai tingindo o dia como Kurosawa pinta seus filmes.
Sentada no banco do parque, conto os tijolos vermelhos da calçada e acompanho o movimento nervoso das formigas que em fila indiana carregam ovos de dinossauros na cabeça.
Um vento travesso rouba o chapéu do seu Zé e o deposita no galho seco do fícus...fícus benjamina...fícus benjamim...Benjamim...
-Benjamim, chame seu pai pra dentro!
-"Papaiii"..!
Uma folha fugida do outono que não temos, passa rodopiando e se acomoda no vão dos meus dedos enquanto o pardal belisca o pão do mendigo que costura os seus sonhos numa mochila de lona verde tecida no tear que pai comprou em São Paulo e queimado por descuido de Dimas.
Seu Nozinho contorna a calçada pela quarta vez, montando sua velha bicicleta preta e assobiando Hey Jude porque segundo ele é impossível atravessar esse Saara sem Beatles.
Um cão sarnento passa cambaleante espantando as moscas da pata ferida e me olha pedindo licença para se deitar e ficar triste. Ele se deita e nós ficamos tristes.
Ao longe, o radio toca um prelúdio para ninar gente grande e pequena. É a voz de algodão doce de Luiz Vieira que lembra saudade, inverno, trovão e bolinho de chuva.
Um relâmpago risca o céu, que agora cinza ameça desabar sobre nós.
Bem que mãe disse que ia chover!
Inês Mota
Sentada no banco do parque, conto os tijolos vermelhos da calçada e acompanho o movimento nervoso das formigas que em fila indiana carregam ovos de dinossauros na cabeça.
Um vento travesso rouba o chapéu do seu Zé e o deposita no galho seco do fícus...fícus benjamina...fícus benjamim...Benjamim...
-Benjamim, chame seu pai pra dentro!
-"Papaiii"..!
Uma folha fugida do outono que não temos, passa rodopiando e se acomoda no vão dos meus dedos enquanto o pardal belisca o pão do mendigo que costura os seus sonhos numa mochila de lona verde tecida no tear que pai comprou em São Paulo e queimado por descuido de Dimas.
Seu Nozinho contorna a calçada pela quarta vez, montando sua velha bicicleta preta e assobiando Hey Jude porque segundo ele é impossível atravessar esse Saara sem Beatles.
Um cão sarnento passa cambaleante espantando as moscas da pata ferida e me olha pedindo licença para se deitar e ficar triste. Ele se deita e nós ficamos tristes.
Ao longe, o radio toca um prelúdio para ninar gente grande e pequena. É a voz de algodão doce de Luiz Vieira que lembra saudade, inverno, trovão e bolinho de chuva.
Um relâmpago risca o céu, que agora cinza ameça desabar sobre nós.
Bem que mãe disse que ia chover!
Inês Mota
9 comentários:
Acho tão bacana esses fragmentos de lembrança, batidos como milk shake... como é bom te ler irmanzinha...
E que link esse nosso heim? acho que a gente tá com vontade glicose.. hehehe
Bem que eu esperava uma chuva de palavras e emoções por aqui...
Um beijo.
Interessantíssima leva de acontecimentos poética e estrategicamente derramados, tal como num belo sonho cinematográfico de Kurosawa, parabéns! Parece que o Beneddetti inspirou você mesmo! Abração!
Oi Inês.
Lembrei do verso final de Cidadezinha Qualquer, poema do Drummond: "Eta vida besta, meu Deus." E bonita, também.
Um beijo.
OLÁ!!
Belo blog, e parabéns...
Linda postagem, vi nela as influências do mundo e de autores...enquanto ia fui remetida a outras leituras...Poético, raro!
Parabéns pela escolha e escrita!
Ah como eu queria essa imagem numa tela, só resolveria onde colocar quando a contemplasse por minutos na mão. Belo texto, idem a imagem, cores muito fortes.
O tear pode ter sido queimado por descuido meu, mas quem ateou fogo foi Djalma. um cheiro.
É verdade, meu irmão Dimas. Havia me esquecido que o "nero" do epsódio foi mesmo o mano Djalma, hehe.
Bjos
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