"No caminho com Maiakóvski"
O lindo poema com esse título, na verdade não é de autoria do grande poeta russo Maiakóvski.
Inúmeras vezes confundido como sendo do próprio é na verdade de outro poeta, o brasileiro Eduardo Alves da Costa.
Esse equívoco que perdurou por três décadas, foi resolvido por uma personagem de novela.
Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era costumeiramente creditado ao russo Vladimir Maiakóvski .
E assim foi estampado em camisetas na época das Diretas-Já. Transformou-se em símbolo da luta contra a ditadura militar.
Quando a personagem da atriz Cristiani Torloni, durante o capítulo de uma novela leu um trecho do poema dando o crédito correto, a controvérsia foi reacesa e as dúvidas foram dirimidas em horário nobre, em capítulo posterior.
"O engano surgiu quando o poema saiu em jornais universitários, nos anos 70.
O Psicanalista Roberto Freire publicou num dos seus livros e deu crédito ao russo, me colocando na qualidade de tradutor", diz Eduardo Alves da Costa.
Eis o poema:
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
Assim como a criançahumildemente afagaa imagem do herói,assim me aproximo de ti, Maiakóvski.Não importa o que me possa acontecerpor andar ombro a ombrocom um poeta soviético.Lendo teus versos,aprendi a ter coragem.
Tu sabes,conheces melhor do que eua velha história.Na primeira noite eles se aproximame roubam uma flordo nosso jardim.E não dizemos nada.Na Segunda noite, já não se escondem:pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.Até que um dia,o mais frágil delesentra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz, e,conhecendo nosso medo,arranca-nos a voz da garganta.E já não podemos dizer nada.Nos dias que correma ninguém é dadorepousar a cabeçaalheia ao terror.Os humildes baixam a cerviz;e nós, que não temos pacto algumcom os senhores do mundo,por temor nos calamos.No silêncio de meu quartoa ousadia me afogueia as facese eu fantasio um levante;mas amanhã,diante do juiz,talvez meus lábioscalem a verdadecomo um foco de germescapaz de me destruir.Olho ao redore o que vejoe acabo por repetirsão mentiras.Mal sabe a criança dizer mãee a propaganda lhe destrói a consciência.A mim, quase me arrastampela gola do paletóà porta do temploe me pedem que aguardeaté que a Democraciase digne a aparecer no balcão.Mas eu sei,porque não estou amedrontadoa ponto de cegar, que ela tem uma espadaa lhe espetar as costelase o riso que nos mostraé uma tênue cortinalançada sobre os arsenais.Vamos ao campoe não os vemos ao nosso lado,no plantio.Mas ao tempo da colheitalá estãoe acabam por nos roubaraté o último grão de trigo.Dizem-nos que de nós emana o podermas sempre o temos contra nós.Dizem-nos que é precisodefender nossos laresmas se nos rebelamos contra a opressãoé sobre nós que marcham os soldados.E por temor eu me calo,por temor aceito a condiçãode falso democratae rotulo meus gestoscom a palavra liberdade,procurando, num sorriso,esconder minha dordiante de meus superiores.Mas dentro de mim,com a potência de um milhão de vozes,o coração grita - MENTIRA!
No Caminho com Maiakóvski
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