Foto: Inês Mota
Ela pode derramar os esmaltes de unhas, usar o óleo de canela de boi nos cabelos e quebrar a perna da boneca de Rita. Mexer o enorme tacho de sabão de potassa que vomita bolhas fedidas a fato de bode. Soltar as cabras do curral, que correm em direção ao cocho para matar a sede. Catar os ovos nos ninhos das galinhas e, assessorada pelo irmão, quebrar todas as panelas de barro do incauto vizinho tio Chico de Joca, coitado, que ao mudar-se deixou-as sobre uma roda de carro de bois.
Espantar os porcos, guinés, perus, ovelhas e galinhas com um galho cheiroso de marmeleiro. Colher trapiás e os melões-caetanos que pendem como brincos de ouro das cercas de varas entre os pereiros.
Na casa do Padrinho Amor- o tio-avô-, onde a menina reina ao lado do
mano Dinarte, impera a liberdade e tudo é normal, natural e
permitidíssimo.
Ela pode derramar os esmaltes de unhas, usar o óleo de canela de boi nos cabelos e quebrar a perna da boneca de Rita. Mexer o enorme tacho de sabão de potassa que vomita bolhas fedidas a fato de bode. Soltar as cabras do curral, que correm em direção ao cocho para matar a sede. Catar os ovos nos ninhos das galinhas e, assessorada pelo irmão, quebrar todas as panelas de barro do incauto vizinho tio Chico de Joca, coitado, que ao mudar-se deixou-as sobre uma roda de carro de bois.
Embrenhar-se pelos mufumbos e juremas, a perseguir encantada, as cores
dos pavões sem conseguir alcançar. Apanhar as frutas verdes e
oleosas das oiticica que não prestam pra comer e fazer músicas com os
chocalhinhos das vagens de gergelim.
Espantar os porcos, guinés, perus, ovelhas e galinhas com um galho cheiroso de marmeleiro. Colher trapiás e os melões-caetanos que pendem como brincos de ouro das cercas de varas entre os pereiros.
Trepar-se no pilão da cozinha para
alcançar as cabaças e admirar os filhotes no ninho de rouxinóis.
"Tecer" pano de rede xadrez subindo e descendo os degraus do roído tear
de madeira. Dar banho no pobre do gato amarelo que, com o rabo entre as
pernas e um olhar rancoroso, corre agoniado direto para a rede do primo
Janúncio. Comer com farinha, tripa e bofe de carneiro assados na brasa.
Embriagar-se fumando o cachimbo da tia Maria que, caçoando, adverte: "
avie, menina, joga logo uma caneca d'água na parede, que o cheiro do
barro acaba essa morrinha!".
Embriagada de tanto amor e carinho, caminhar pelas veredas do sítio e adormecer no mato macio, ouvindo a música do riacho do Vô Joca, que parece dizer:" sonha, menina, sonha enquanto é tempo, que sonhar faz um bem!".
Inês Mota;
Natal, 11 de agosto de 2010.
*Imagem (Penso que é de minha autoria): Casa onde nasci, no sítio Logradouro, município de São Bento (PB
Embriagada de tanto amor e carinho, caminhar pelas veredas do sítio e adormecer no mato macio, ouvindo a música do riacho do Vô Joca, que parece dizer:" sonha, menina, sonha enquanto é tempo, que sonhar faz um bem!".
Inês Mota;
Natal, 11 de agosto de 2010.
*Imagem (Penso que é de minha autoria): Casa onde nasci, no sítio Logradouro, município de São Bento (PB
3 comentários:
Oi Inês.
Que cheirinho bom de infância.
Que 2010 esteja sendo um ano maravilhoso para você é o meu desejo.
Beijo.
Muito bom!
Que final fantástico...parabéns.
Qué bom sería ter uma ceremonia pra mudar á adultos!
Abraço
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