terça-feira, 21 de julho de 2009

Rotineiro

Num dia extremamente rotineiro, acordo cedo como de costume e ponho a roupa de caminhar. Saio. Atravesso a BR pela Passarela de Neópolis. O tráfego já é intenso e o barulho, infernal. Caminho até a Avenida da Integração. E hoje resolvi mudar o percurso e vou direto pela Jaguarari, ao invés de pegar a Prudente. Péssima idéia!
Lá, nesse horário, é muito silencioso. Dá um pouco de medo. Medo do que vejo: garotos fumando maconha entocados pelos becos; pessoas no mais completo abandono dormindo ao relento. E medo do que não vejo, mas imagino haver ali. Um lugar que me reporta à infância. Ao imaginário infantil, ao tenebroso dos contos que não eram exatamente de fadas, onde tudo parecia sinistro e de dimensões enormes .
Uma hora de caminhada. E mais uma hora pra voltar pra casa. Agora não há mais silêncio. Só o barulho ininterrupto dos carros que passam raspando em mim. E são tantos! Fico imaginando quem são essas pessoinhas dentro de tantos veículos, para onde elas vão e fazer o que , tão apressadas.
Já em casa, prossegue a rotina. Fazer o almoço. Ler. Tomar umas canecas de chá verde, comer barrinhas de cereal e as providenciais claras de ovo, minha fonte de proteínas preferida.
Depois do almoço regado a vinho oriundo das vinícolas patoenses, envelhecido em tonéis de plástico na geladeira, uma hora pra dormir e recuperar energias.
Hora da musculação. E eu aqui escrevendo besteira e enfezando o coitado do computador.
Mastigo as intragáveis pastilhas de suplemento alimentar e saio. O que queria mesmo agora era ligar o som alto e dançar sem roupa pela casa e depois retomar a leitura de "A Montanha Mágica", há muito abandonada.
Não dá. Garrafinha de água do lado, vou encher as mãos de calos e de ferrugem do ferro velho da Academia Líder, ali na BR. E suar ao som enfadonho das bandas de Forró de Fortaleza e do lenga-lenga do papo-cabeça de camarão de alguns frequentadores do local
Putz. Vício é vício.


Objeto Neuronial n° 03
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4 comentários:

Thiago Leite disse...

Amor, tem algum problema com a imagem da tirinha.

OSERIDO disse...

Essa descrição conheço a fundo. Morei no Bairro de Cidade da Esperança, e constatemente usava o início da jaguarari para chegar mais rápido ao bairro. Dar medo sim daquela localidade, justamente por não saber de qual medo sentir. Se fosse você não arriscaria novamente, àquelas matas encobrem certas realidades não próximas da nossa.
Quanto ao trânsito, pense numa coisa de quando lembro arrepio-me todo. Deus me livre por um tempo dessa loucura.
Gostei muito do texto Inês, fez-me lembrar das minhas idas e vindas pelas loucuras do trânsito, e das correrias cotidianas da cidade.
:)

Dilberto L. Rosa disse...

Que delícia de "crônica sobre o nada", quantos pensamentos não nos assaltam nesses momentos, não? Mais bela que a Valse d'Amelie, daquele também belo filme, só mesmo a Inês eternamente jovem e bela: quem foi rainha não perde nunca a majestade, minha cara, parabéns! Abraços belos e saudosos!

Jens disse...

Oi Inês.
Ê vida rotineira, ê vida boa... Permita-se, porém, pequenas mudanças - como percurso inesperado na caminhada matinal - e, eventualmente, cante e dance.
Um beijo.